Entrevista com Alexandre Sampaio
Director da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Alexandre Sampaio
Director da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), chefe do Conselho Empresarial de Turismo e Hotelaria, e Presidente da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Estabelecimentos Similares (FNHRBS)
Alexandre Sampaio é um dos empresários mais importantes do Brasil, não só pelos cargos de responsabilidade que ocupa, mas também pela sua visão da indústria turística brasileira.
Alexandre Sampaio é empresário do turismo no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, particularmente na indústria hoteleira, e é actualmente membro do Conselho Nacional do Turismo do Ministério do Turismo.
É também Coordenador do Comité Brasileiro de Turismo (CB54), o órgão de planeamento, coordenação e controlo de normas relacionadas com o turismo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Com formação em Contabilidade, Sampaio foi presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio) entre 2002 e 2010, quando assumiu a presidência da FNHRBS.
Havia algum desafio ou dificuldade em reunir as 30 entidades do sector num projecto conjunto? Como tem sido o trabalho desta parceria?
As principais associações e entidades turísticas fazem parte do Conselho Empresarial de Turismo e Hotelaria (Cetur) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e já trabalhámos de forma unida em momentos importantes para o sector, tais como a criação da Lei Geral do Turismo, que procuramos modernizar. Este é o propósito da Cetur/CNC, para reforçar as exigências do Turismo e promover a união de empresários, sindicatos e entidades associativas e actuar na promoção e formulação de propostas pela organização nacional de turismo.
O Projecto VAI Turismo (https://vaiturismo.com.br/ ) começou, nos 26 estados e no Distrito Federal no Brasil, com uma ampla e participativa consulta que reuniu cerca de 300 instituições para discutir as prioridades e exigências do sector. A partir destes grupos estatais, realizou-se o envio do relator e a sistematização dos temas de cada estado, os temas comuns tornaram-se exigências regionais, e as prioridades regionais foram consolidadas na agenda nacional.
Os temas nacionais foram discutidos e validados pelas entidades nacionais dos vários segmentos da cadeia logística do turismo, que foram e estão a ser fundamentais para o desenvolvimento e implementação da Vai Turismo.
Consciente de que a campanha visa inserir a agenda do turismo entre as exigências do governo, quais são os principais desafios para alcançar estes objectivos e os maiores estrangulamentos no sector?
O sector do turismo foi severamente afectado pela pandemia de Covid-19, com mais de 500 mil milhões de reais em perdas de receitas desde Março de 2020, com o encerramento de estabelecimentos. Neste sentido, o cumprimento das agendas prioritárias é essencial para mover e reactivar a cadeia de produção. O sector necessita de incentivos, segurança jurídica e microcrédito não burocrático e linhas de crédito para atrair e reter investidores, taxa de imposto diferenciada, imposto de renda sobre remessas de grés no estrangeiro (a não redução tem impacto na economia e afecta a competitividade de milhares de agências e operadores turísticos brasileiros), programas para expandir a procura turística e comercializar destinos brasileiros, regulamentação de jogos e aprovação da modernização da Lei Geral do Turismo.
Com base nos pilares de propostas integradas, instituições ligadas, políticas públicas, desenvolvimento sustentável e destinos turísticos nacionais como alvo, como é que o Movimento Vai Turismo vê o seu impacto no desenvolvimento da indústria e da sociedade turística?
A elaboração do documento gerou uma agenda única, construída de forma participativa pelos principais actores do turismo nacional e foi composta de exigências prioritárias para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do turismo. O Movimento incentiva o debate contínuo, converge acções e contribui para soluções práticas e aplicáveis, olhando sempre para o futuro. O que apresentamos objectivamente é que já não é apropriado falar do turismo como uma actividade potencial. É uma realidade, e a rota é sinalizada com a entrega, nas mãos do documento Propostas e recomendações de políticas públicas de turismo para os candidatos à Presidência da República e governos estaduais. Cabe agora aos representantes eleitos aproveitar a mobilização e o apoio de tantas instituições para assumirem um compromisso nos seus planos governamentais e implementarem as acções.
O documento também aborda uma estrutura de trabalho com fundamentos de Destino Turístico Inteligente. Porquê trabalhar com os DTIs e como é que esta classificação combina práticas sustentáveis com o sucesso do destino?
A methologia do Destino Turístico Inteligente é um modelo que segue uma tendência global, que contribui para diferenciar cada destino dos Outros concorrentes, em favor da melhoria do posicionamento na esfera do turismo nacional e internacional. Os DTI estão alinhados com o "novo" turismo e, especialmente, com as exigências dos viajantes pós-pandémicos, para viagens seguras, diferenciadas e mais sustentáveis, facilitadas pela digitalização. O que vemos é que a metodologia ajuda os destinos a serem mais competitivos, inovadores, assegurando práticas sustentáveis - que geram protecção da actividade económica do turismo, respeito ambiental, preservação e valorização do aspecto sociocultural - e a compreender a acessibilidade como um instrumento para praticar a inclusão.
A utilização da tecnologia tornou-se um dos pilares para estimular a criação de um mecanismo de recolha, análise e partilha de dados a nível federal, para além da utilização da rede social na divulgação do hashtag que dá o nome ao movimento. Como a utilização da tecnologia e das redes sociais pode ajudar ao desenvolvimento do turismo no Brasil e o que é necessário para melhorar?
A tecnologia e as redes sociais trazem a oportunidade de desenvolver negócios turísticos e utilizadores de redes sociais, ao aceder às experiências de viagem partilhadas de amigos ou conhecidos, descobrir possibilidades de actividades, serviços ou equipamentos que estão disponíveis nos destinos, bem como descobrir novos destinos.
Quanto às melhorias, é necessário: implementar acções para a expansão da Internet, com qualidade de serviço e economia, expansão das redes wi-fi e celulares e estimular o desenvolvimento de novas tecnologias com incentivo à produção científica e tecnológica.
O movimento Vai Turismo identificou também que precisamos de informação fiável e constantemente actualizada, a que chamamos plataforma de inteligência turística brasileira. Para tal, precisamos de unir a informação e os dados sobre turismo que são produzidos por diferentes fontes e assegurar uma governação segura e intemporal desta plataforma, que não seja comprometida pelas mudanças de governos.
O projecto foi concebido para cobrir o próximo mandato do ramo executivo, de 2023 a 2026. No entanto, qual é a visão para o futuro? Será esta uma iniciativa que pode ser replicada, com melhorias a longo prazo?
Para que as propostas tivessem o carácter sustentável no tempo desejável, as recomendações para os mandatos de 2023-2026 precisavam de ter como pano de fundo estratégias a longo prazo. A Vai Turismo não só procurou ligar as necessidades mais urgentes, como também procurou alinhar as estratégias estatais com as estratégias regionais e nacionais. O projecto contemplou a combinação de exigências imediatas, com aspectos importantes de desenvolvimento a longo prazo.
No sentido de mobilidade urbana e infra-estruturas, o que é que as entidades relatam como necessidade de melhoria e quais são os desafios?
Nas macroestratégias nacionais relatamos o alinhamento de programas entre entidades governamentais, quando consideramos o desenvolvimento de destinos turísticos sustentáveis que requerem investimento em várias áreas: infra-estrutura básica de destinos, incluindo estrutura aeroportuária, porto, estrada, telefonia, saneamento básico, energia, saúde e segurança. Quanto à mobilidade urbana: expansão da malha aérea, melhoria do transporte rodoviário, investimento em pavimentação, sinalização e estruturas portuárias fluviais e marítimas. Um desafio é assegurar a convergência dos investimentos governamentais, com os ministérios e agências federais a agirem de forma coordenada para estas melhorias apontadas.
O pedido de apoio governamental para a obtenção de linhas de crédito e de investimento foi também abordado. Como é que o Movimento Vai Turismo justifica o interesse do governo em ajudar o Turismo nesta área? Quais são os obstáculos e porque é que esta é ainda uma questão com pouco apoio?
O sector necessita de microcréditos não burocráticos e de linhas de crédito que satisfaçam as características do segmento. Os serviços, especialmente o turismo, é o sector que mais empregos gera, é importante para os governos expandir a empregabilidade no país, e para isso é necessário compreender as particularidades destas actividades. A cadeia de produção turística responde a uma procura volátil, dependente das flutuações cambiais e do ciclo económico interno e externo, e é composta, em grande medida, por empresas mais pequenas e, em geral, de capacidade reduzida para oferecer garantias. Deste modo, os potenciais requerentes das linhas de crédito encontram barreiras praticamente intransponíveis quando sujeitos a análises de risco de crédito de instituições financeiras autorizadas a conceder tais financiamentos. Algumas medidas estão a ser revistas pelo governo, no que diz respeito aos padrões de crédito e à eficácia dos efeitos do Programa de Retoma do Sector de Eventos (PERSE).
Prezado Sr. Sampaio, com grande alegria, e em nome de todos os membros do Tourism and Society Think Tank, gostaríamos de lhe agradecer pelas suas importantes palavras, e por nos aproximar do presente e futuro do turismo num grande país como o Brasil.
As ideias e opiniões expressas neste documento não reflectem necessariamente a posição oficial do Think Tank Turismo e Sociedade e não comprometem de modo algum a Organização, e não devem ser atribuídas ao TSTT ou aos seus membros.
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