Jorge Coromina
Influencers ou publicidade? A transformação do marketing turístico
Esqueça as brochuras com as suas imagens do paraíso: os viajantes de hoje querem um vislumbre da realidade para inspirar a sua próxima viagem. É por isso que recorrem frequentemente ao fórum que lhes pode realmente dar a autenticidade que procuram: as redes sociais.
Quando procuram inspiração, a maioria dos viajantes (52%) tende a recorrer aos seus amigos e familiares. Afinal, é difícil não ficar encantado com as fotografias de um amigo quando estas são acompanhadas por histórias de aventuras, sucessos e mistérios de viagens. Muitos destes instantâneos são depois publicados nas redes sociais, na esperança de provocarem sentimentos semelhantes noutros membros da sua rede.
Faz sentido, portanto, que as redes sociais sejam a segunda melhor fonte de inspiração para viajar (35%), ultrapassando já os canais tradicionais, como as agências de viagens (29%), as publicações sobre viagens (26%) e o entretenimento televisivo e cinematográfico (25%). E quem passa mais tempo nas redes sociais? A Geração Z.
Cerca de 90% dos adultos desta geração passam pelo menos uma hora por dia nas redes sociais e quase metade passa mais de três horas, muito mais do que as gerações anteriores.
Com um grupo demográfico de compradores cada vez mais jovem, os profissionais de marketing de viagens terão de mudar as suas tácticas para chegar à classe mais jovem de entusiastas de viagens no seu domínio digital.
Um anúncio de viagens num panfleto ou num cartaz nunca poderá oferecer a mesma informação interpessoal e fiável que um amigo ou até mesmo um influenciador de renome.
De facto, o valor do conteúdo gerado pelo utilizador (UGC) - publicações baseadas em texto, imagens e vídeo - reside na sua capacidade de transmitir experiências que são verdadeiras e autênticas para o público-alvo.
Um estudo recente de análise de marketing concluiu que a navegação em UGC relacionado com viagens influencia significativamente o desejo dos potenciais turistas de visitar esses mesmos destinos.
Os resultados alinham-se com a pesquisa publicitária de 2018 que revelou que 84% dos viajantes da Geração Z consideram as fotografias e os vídeos de férias de outra pessoa particularmente influentes.
O UGC, ao contrário das campanhas de marketing tradicionais, pode retratar as áreas menos conhecidas e as jóias escondidas de qualquer destino através de uma perspectiva que ressoa com os espectadores, que lhes permite imaginar como seria realmente visitar esses lugares.
E, como os dados sugerem, o UGC relacionado com viagens é cada vez mais um factor decisivo. Consequentemente, os profissionais de marketing fariam bem em investir em materiais promocionais orgânicos, gerados pelos utilizadores, sempre que possível.
Para que as agências de viagens expandam a sua base de clientes, especialmente nos grupos demográficos mais jovens, devem considerar incentivar o conteúdo gerado pelo utilizador em plataformas como o Facebook, o Instagram e o TikTok, o último dos quais é mais utilizado pela Geração Z. Para captar a sua atenção, por exemplo, podem ser estabelecidas parcerias com influenciadores que geram valor adicional para as empresas enquanto embaixadores da marca.
Criar conteúdos orgânicos
Os conteúdos de viagens devem não só ser autênticos e cativantes, mas também responder aos valores progressistas que as gerações mais jovens estão a adoptar cada vez mais.
Em parte devido à tendência geral da Geração Z de apoiar empresas que se enquadram na categoria de turismo ético e sustentável - aquelas que apoiam abertamente a igualdade, a diversidade ou causas favoráveis ao clima, entre outras - espera-se que o mercado do turismo sustentável cresça 335 mil milhões de dólares nos próximos quatro anos.
É uma mina de ouro do marketing: para tornar as suas viagens ainda mais impactantes e satisfatórias, os consumidores de hoje querem cada vez mais tomar decisões de compra informadas com empresas que sentem que partilham os seus valores.
Como tal, as empresas do sector das viagens devem oferecer informações que vão para além das vantagens e comodidades básicas e esforçar-se por incluir pormenores que os profissionais de marketing possam destacar nos seus conteúdos digitais para apelar às sensibilidades específicas dos viajantes.
Por exemplo, uma empresa de autocarros ou de comboios pode realçar a segurança das suas linhas para as mulheres que viajam sozinhas. Na mesma linha, as empresas podem publicitar quaisquer esforços de caridade ou divulgar quaisquer iniciativas que possam apoiar para comunidades locais em dificuldades, para citar alguns exemplos.
A criação de UGC que realce estes valores éticos não só garantirá a satisfação contínua dos consumidores, como também os profissionais de marketing colherão maiores benefícios ao longo do tempo, especialmente à medida que a Geração Z e as próximas gerações com conhecimentos tecnológicos dominam cada vez mais o mercado de consumo.
O UGC orgânico que destaca áreas menos conhecidas e humaniza várias actividades culturais oferece uma imagem das viagens internacionais e domésticas que os espectadores mais jovens consideram mais relacionável e acessível do que os anúncios normais.
Investir em influenciadores orientados por valores que apoiam marcas com preocupações sustentáveis será um grande passo para alcançar este grupo demográfico.
Em última análise, os profissionais de marketing, tirando partido das principais plataformas das redes sociais, poderão contar estas histórias convincentes para que os viajantes queiram fazer parte delas.
Viajar num autocarro de transporte de galinhas em vez de um táxi ou ficar numa casa na árvore em vez de num hotel de cinco estrelas pode não ser a escolha "normal" quando se planeia uma viagem, mas pode dar origem a uma história ainda mais emocionante.
As ideias e opiniões expressas neste documento não reflectem necessariamente a posição oficial do Think Tank Turismo e Sociedade e não comprometem de modo algum a Organização, e não devem ser atribuídas ao TSTT ou aos seus membros.
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