Antonio Santos del Valle
O turismo de base comunitária e alguns novos modelos de gestão
Antonio Santos del Valle
O turismo de base comunitária e alguns novos modelos de gestão
O turismo de base comunitária é uma forma de turismo que se centra no envolvimento ativo das comunidades locais no desenvolvimento e funcionamento das actividades turísticas nas suas áreas.
Ao contrário do turismo convencional, em que os benefícios económicos estão frequentemente concentrados em grandes empresas ou corporações, o turismo de base comunitária procura partilhar os benefícios de forma mais equitativa com as populações locais. Mas o que queremos dizer quando falamos de "equitativo"?
Entre outras coisas, considero que o principal objetivo do turismo de base comunitária é dar o conhecimento e as ferramentas às comunidades para que possam ser os principais directores e gestores do seu desenvolvimento, e que também lhes permite melhorar a sua qualidade de vida através da participação no desenvolvimento turístico do seu território, ou seja, dirigir o turismo como um motor de desenvolvimento social, cultural e económico. Como uma indústria turística geradora de lucros.
A origem do turismo de base comunitária pode ser rastreada até diferentes movimentos e abordagens que surgiram no domínio do turismo ao longo do tempo. Embora não exista uma data ou um local específico que marque o seu início, é possível identificar algumas etapas e correntes que contribuíram para o seu desenvolvimento:
Turismo Alternativo: Nas décadas de 1960 e 1970, surgiram movimentos de turismo alternativo que procuravam afastar-se do turismo de massas e comercial. Estes movimentos promoviam uma maior ligação à natureza, à cultura local e à participação das comunidades na experiência turística.
Ecoturismo: Nos anos 80, o ecoturismo tornou-se uma corrente importante do turismo sustentável. O ecoturismo centrou-se na conservação do ambiente e na promoção do bem-estar das comunidades locais, considerando o envolvimento destas no desenvolvimento de projectos turísticos.
Turismo responsável: Na década de 1990, consolidaram-se os princípios do turismo responsável, incluindo aspectos ambientais, sociais e económicos. Esta abordagem passou a considerar a importância da participação e do benefício das comunidades locais na indústria do turismo.
Declaração de Quebec: Em 2002, foi realizada a Conferência Mundial sobre Turismo Sustentável em Quebec, Canadá, onde foi destacada a importância do envolvimento das comunidades locais no desenvolvimento do turismo sustentável. Esta conferência foi um marco para o reconhecimento e promoção do turismo de base comunitária como uma alternativa viável e responsável.
Iniciativas locais: Ao longo dos anos, comunidades em diferentes regiões do mundo, principalmente na América Latina e, em menor escala, em África, implementaram iniciativas de turismo de base comunitária, por si próprias ou com o apoio de organizações não governamentais e agências de desenvolvimento. Estas iniciativas têm sido fundamentais para o estabelecimento de modelos bem sucedidos de turismo de base comunitária e para a divulgação da sua importância.
De um modo geral, o turismo de base comunitária surgiu como resposta às limitações e desafios do turismo convencional, com o objetivo de dar o comando da gestão turística do território às comunidades locais, preservar o seu património cultural e natural e partilhar os benefícios económicos do turismo de forma mais justa e equitativa entre os membros da própria comunidade.
Com o aumento da consciencialização para a sustentabilidade e a responsabilidade no turismo, o turismo de base comunitária estabeleceu-se como uma opção valiosa e respeitadora para o desenvolvimento do turismo em muitas partes do mundo.
Atualmente, com base em propostas desenvolvidas principalmente nos últimos 30 anos, alguns dos princípios fundamentais do turismo de base comunitária incluem
Participação "ativa" da comunidade: As comunidades locais são envolvidas desde o início na conceção, planeamento e gestão das actividades turísticas. As suas opiniões e conhecimentos são tidos em conta na tomada de decisões.
Mas quem toma as decisões: é uma pessoa de fora, um gestor ministerial de uma cidade a centenas de quilómetros de distância, os gestores locais estão preparados e têm conhecimentos, e existe um trabalho entre pares entre os gestores locais e os técnicos institucionais?
Preservação do património cultural e natural: O turismo de base comunitária visa geralmente o respeito e a preservação da cultura, das tradições e do ambiente da comunidade de acolhimento.
Benefícios económicos e sociais: O objetivo do turismo de base comunitária é distribuir o rendimento gerado pelo turismo de forma mais equitativa entre os membros da comunidade, contribuindo assim para o seu desenvolvimento económico e para a melhoria das condições de vida.
Sensibilidade e responsabilidade cultural: Os visitantes são encorajados a respeitar os costumes e tradições locais, bem como a ter consciência do seu impacto na comunidade e no ambiente.
Pequena escala: O turismo de base comunitária centra-se geralmente em pequenos grupos de turistas para evitar a sobrelotação e minimizar o impacto negativo no ambiente.
Como podemos ver, as actividades turísticas do turismo de base comunitária podem incluir estadias em casas de família ou pequenas empresas locais, visitas guiadas por membros da comunidade, artesanato e produtos locais, entre outras experiências que permitem aos visitantes ligarem-se à vida quotidiana e à cultura local.
O turismo de base comunitária provou ser uma forma sustentável e responsável de desenvolver o turismo, uma vez que promove a conservação do ambiente e do património cultural, ao mesmo tempo que melhora as condições de vida das comunidades locais. Oferece também aos turistas uma experiência mais autêntica e significativa ao interagir com as pessoas e culturas locais de uma forma mais genuína e respeitosa.
Da mesma forma, os especialistas em turismo comunitário concordam com os benefícios deste tipo de turismo, destacando:
Aumento da consciencialização e da procura: Aumento da consciencialização por parte dos turistas da importância do turismo sustentável e responsável. Isto conduzirá a uma maior procura de experiências turísticas autênticas e centradas na comunidade, o que impulsionará o desenvolvimento do turismo de base comunitária.
Colaboração e parcerias: Maior colaboração entre as comunidades locais, as empresas de turismo e as organizações não governamentais para desenvolver projectos de turismo de base comunitária mais fortes. Estas parcerias facilitam o acesso das comunidades a recursos, formação e apoio técnico.
Utilização da tecnologia e das redes sociais: Um dos pontos mais polémicos, pois alguns gestores vêem uma contradição entre este tipo de turismo e a utilização de ferramentas tecnológicas, algo que sou expressamente contra.
As comunidades locais devem adotar cada vez mais a tecnologia e os meios de comunicação, como as redes sociais, para promover e gerir as suas iniciativas turísticas.
Esta situação aumentará a visibilidade e o alcance das suas propostas, chegando a mais turistas interessados no turismo de base comunitária.
Diversificação de experiências: Uma maior diversificação de experiências oferecidas pelas comunidades locais, que vão além do simples alojamento e guias turísticos, como oficinas culturais, intercâmbios culturais, actividades agrícolas ou artesanais, entre outras opções.
Turismo rural e de natureza: O turismo de base comunitária em zonas rurais e naturais deve oferecer aos turistas experiências de vida no campo e a possibilidade de se ligarem à natureza.
Turismo de voluntariado: O turismo de voluntariado ou de solidariedade nas comunidades locais está a ganhar popularidade, uma vez que os turistas têm a oportunidade de participar em projectos comunitários e contribuir diretamente para o desenvolvimento local.
Educação e sensibilização: A importância de educar tanto os turistas como as comunidades locais sobre a importância do turismo comunitário, os seus benefícios e a preservação da cultura e do ambiente deve ser um elemento fundamental nos programas de turismo comunitário, especialmente porque o conhecimento da realidade e das tendências (o que está a chegar) não entra em conflito com a tradição e a identidade cultural do território, antes pelo contrário, pois o conhecimento valoriza o que se é.
Como sabemos, o turismo é um sector em constante mudança e as tendências podem evoluir em resposta a factores como as alterações na procura do mercado, as situações económicas, os desafios ambientais e sociais e, sobretudo, a identidade cultural dos destinos turísticos. Neste sentido, o turismo de base comunitária e a identidade cultural estão intimamente relacionados e complementam-se mutuamente.
O turismo de base comunitária baseia-se na contribuição das comunidades locais para o desenvolvimento e a gestão das actividades turísticas nos seus territórios, actividades cujo grande valor se baseia na identidade cultural de uma comunidade, uma vez que esta molda a experiência turística e lhe confere autenticidade e significado.
Em primeiro lugar, o turismo de base comunitária e a identidade cultural estão interligados:
Preservação cultural: O turismo de base comunitária frequentemente valoriza e preserva a cultura local como parte integrante da experiência turística. Através da promoção de práticas e tradições culturais, as comunidades podem manter a sua identidade e evitar a homogeneização cultural.
Experiências autênticas: O objetivo é proporcionar aos visitantes experiências autênticas e genuínas, permitindo-lhes mergulhar na vida quotidiana e nos costumes da comunidade. Este facto reforça a identidade cultural local e dá aos turistas uma compreensão mais profunda da cultura e dos modos de vida da comunidade de acolhimento.
Património cultural tangível e intangível: O turismo de base comunitária destaca e promove o património cultural tangível (monumentos, artesanato, arquitetura) e o património cultural intangível (rituais, música, gastronomia). Isto ajuda a preservar e a transmitir a identidade cultural da comunidade ao longo do tempo.
Participação local: A participação da comunidade no planeamento e funcionamento do turismo de base comunitária garante que a experiência turística é desenvolvida de forma coerente com os valores culturais e as tradições da comunidade. Isto também evita a apropriação cultural e promove um intercâmbio respeitoso entre visitantes e habitantes locais.
Capacitação cultural e económica: O turismo de base comunitária oferece oportunidades às comunidades locais para partilharem e celebrarem a sua identidade cultural, o que, por sua vez, pode levar a um maior sentimento de orgulho cultural e de capacitação. Além disso, o turismo de base comunitária é uma fonte de rendimento económico para as comunidades, o que contribui para reforçar e manter as suas práticas culturais.
Educação intercultural: O turismo de base comunitária incentiva a interação entre os turistas e as comunidades locais, criando oportunidades para um intercâmbio cultural enriquecedor. Os visitantes podem aprender sobre a identidade cultural da comunidade e, por sua vez, partilhar as suas próprias culturas, o que promove uma maior compreensão e tolerância.
Por último, devemos ter consciência de que o turismo comunitário deve oferecer experiências, mas também facilitar a aquisição (compra) de produtos por parte dos turistas, e que, nalguns casos, sem banalizar os produtos, o turismo comunitário pode também ser uma forma de promover o intercâmbio cultural.
Sem banalizar os produtos, o turismo de compras e o turismo de proximidade estão intimamente relacionados, uma vez que a compra de produtos pode ser uma importante fonte de riqueza.
Neste sentido, o turismo de compras pode ter um impacto económico positivo nas comunidades locais, uma vez que os turistas gastam dinheiro em bens e serviços, embora deva ter como premissa que as compras devem ser feitas de forma responsável e sustentável, evitando a exploração dos produtores e artesãos locais e incentivando uma distribuição equitativa dos benefícios económicos entre a comunidade.
Em certos contextos, o turismo de base comunitária e o turismo de compras devem complementar-se, uma vez que os turistas podem apreciar e aprender sobre a cultura local e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de comprar produtos e artesanato locais, contribuindo assim para o desenvolvimento económico da comunidade.
Da mesma forma, o turismo de compras responsável ajuda a preservar o artesanato local e as tradições culturais, incentivando os artesãos e produtores locais a manterem as suas práticas tradicionais.
O turismo de compras e o turismo de base comunitária devem coexistir, desenvolver-se e beneficiar mutuamente um do outro se forem implementados de forma responsável e em harmonia com os valores e objectivos do turismo de base comunitária. Esta é uma tarefa que cabe aos responsáveis políticos e técnicos e, sobretudo, aos líderes comunitários.
As ideias e opiniões expressas neste documento não reflectem necessariamente a posição oficial do Think Tank Turismo e Sociedade e não comprometem de modo algum a Organização, e não devem ser atribuídas ao TSTT ou aos seus membros.
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